A Soberania Divina revelada na queda humana

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o SENHOR DEUS tinha feito”. Gn3:1a.

Sabemos que quando a Bíblia se refere à serpente ela faz uma alusão a satanás, que ainda antes que houvesse sido feita a criação já havia gerado uma rebelião no céu, e, por isso, fora expulso de sua posição original. Acerca disso Jesus afirma: “Eu vi satanás, como raio, cair do céu”. Lc 10:18

A palavra astuto se refere àquele que é enganador, e, é assim, que a bíblia se dirige ao querubim caído. Podemos então refletir sobre a causa de um animal tão perigoso como a serpente ter tido a autorização de Deus para circular as redondezas do Jardim do Éden. Será que Deus não sabia do risco que toda a sua criação corria? Mas qual seria a razão de Deus ter criado um ser tão abominável, e tê-lo deixado entrar no seu paraíso?

È impossível que Deus tenha se descuidado e o inimigo tenha entrado sem que Ele o soubesse, de fato O Senhor liberou a sua entrada. Deus sabia do que a serpente era capaz e, mesmo assim, a deixou tentar Eva, que por sua vez sucumbiu a esta tentação, levando consigo a Adão, seu marido, e toda a criação.

Temos sempre aprendido sobre a Onisciência de Deus e sobre a Sua Presciência, mas afinal o que significam tais expressões? Pois reconhecer que Deus é Presciente é o mesmo que dizer que ele sabia o que ocorreria no Éden, e mesmo assim não impediu a entrada de satanás. Faria por acaso parte dos planos de Deus a queda humana? Ou Estariam certos os que dizem que Deus foi pego de surpresa com a queda humana, e que, por isso, teve que enviar o seu filho como um plano B para a História?

Pois se Deus conhecia o perigo da entrada do animal astuto, do que ele era capaz, e também, por sua presciência, que sua criação aceitaria a proposta do mesmo, podemos afirmar que Deus não apenas autorizou o ocorrido como também ordenou que tudo fosse do jeito que foi. Deus nunca é pego de surpresa, caso contrário que deus seria Ele que não sabe o que acontece na sua própria criação? Um Deus que autoriza é o mesmo que ordena. Para Ele não há diferença entre autorizar e ordenar, uma vez que Ele sabe dos resultados de cada autorização sua.

O Deus que a bíblia nos traz é um soberano que faz tudo que o apraz, sem ter que provar, ou explicar, nada a ninguém acerca de todos os seus feitos. Foi Ele quem disse: “Ainda antes que houvesse dia, Eu Sou. Ninguém há que possa escapar das minhas mãos. Operando Eu, que impedirá?” Isaias 43:13.

Satanás não é tão forte como as pessoas pensam, a ponto de ser capaz de escapar das mãos de Deus para fazer o que bem queria no Éden, não, foi Deus quem o colocou lá para cumprimento de seu propósito. Quando Deus age não há quem impeça, mas quando ele fecha uma porta não existe um ser no universo que seja apto para abrir.

Deus habita em uma esfera atemporal, onde existe apenas um hoje eterno. Portanto, quando ele autoriza, ou ordena a tentação e a queda do homem, ele não apenas estava focando a queda, mas também o que estaria por vir. Em Isaias Capitulo 46, versículo 10, Deus diz: Eu anuncio o fim desde o principio, desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam. Eu digo: O Meu propósito subsistirá, e farei a minha vontade.

A despeito do que pensam muitos Cristãos, o maior compromisso de Deus não é com o homem, mas sim com o propósito que Ele tem desde a antiguidade.

A maior prova de que nada foge à vontade de Deus é que desde a criação do mundo ele já havia feito provisão para aqueles a quem ele tinha escolhido. Como pode alguém fazer provisão para algo de que não tem conhecimento? Ele não apenas sabia da queda, Ele ordenou a queda! Quando Adão peca e vê que está nu, tenta improvisar uma veste de figueira para se cobrir, e Deus lhe dá uma nova veste, feita de pele. Pele de que animal seria? Apocalipse 13:8 nos dá a resposta quando diz que todos adorarão a besta, a não ser aqueles que tinham o nome escrito do livro do CORDEIRO que foi morto desde a fundação do mundo.

Assim como a serpente aponta para satanás, o Cordeiro aponta para Cristo. Quando Deus se depara com o homem já caído, ele não se apressa para matar um cordeiro para fazer vestes, este já esta morto, Ele já vem com as vestes prontas para serem usadas. Deus já tinha as vestes prontas, pois foi Ele que ordenou a queda

DESEJO DE INDEPENDÊNCIA

Cristo permitiu, ou ordenou, que satanás tentasse o homem com o mesmo sentimento que pairou em seu coração, ser igual ou superior a Deus. Eis um fato que a ao alcance de poucos dão a atenção merecida: O homem quis ser igual a Deus! Foi seduzido com uma promessa falsa de independência! “Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu”.Gn3:6.

Naquele momento em que o fruto estava ao alcance de Eva, ela foi ludibriada pela serpente com a promessa de ser igual a Deus. Comer daquela arvore poderia significar independência de Deus. Será que foi isso que realmente aconteceu?

Deus sempre teve na sua mente a separação de dois povos, os eleitos e os não eleitos. Para os não eleitos o pecado representa uma chancela para que eles possam viver apenas para si, sem levarem em consideração a pessoa divina. Contudo, para os eleitos o pecado representa uma maior dependência de Deus do que antes da queda, pois antes dela todos viviam em uma linha linear de vida, mas após ela todos vivem em uma constante queda de erros e pecados.

O ser humano desejou ser seu próprio Deus e comandar seus próprios caminhos, sem qualquer intrometimento de Deus. Tiago fala acerca disso: “E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.Mas agora vos jactais das vossas presunções; toda jactância tal como esta é maligna.” Tg 4:13-16

Para o ímpio a queda simboliza liberdade de Deus, mas para o Justo a queda simboliza um estreitamento da sua dependência dele, pois sabe que o seu natural é a natureza caída e se não for a Graça ele também cairia.

DEUS SE REVELA ATRAVÉS DA QUEDA

Qual razão faria com que Deus decretasse a queda de sua obra mais excelente, o homem? Deus cria o homem em um estado de inocência completa, sem se quer diferenciar o que era o bem e o que era o mal. Desta forma o homem não poderia ser capaz de conhecer a plenitude da pessoa de Deus, principalmente no que se tange a misericórdia, justiça, juízo e amor de Deus. Como conhecer estes atributos sem que houvesse a queda? Não seria possível conhecer a plenitude do amor de Deus se o homem não houvesse pecado, foi Jesus quem disse que aquele a quem muito é perdoado muito ama. João diz que nós o amamos, pois Ele nos amou primeiro. O perdão foi meio de Deus declarar o seu amor, e o caminho que nos levou amá-lo. Com a inocência em que fomos criados não poderíamos nem sentir o Seu amor pleno e nem poderíamos amá-lo plenamente. A queda já era parte da história escrita por Deus, Pedro diz na sua primeira epístola, no capitulo 1 e versículo 19 e 20:

“Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade em outro tempo foi conhecido, Ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.”

O Amor Ágape só poderia ser conhecido com um sacrifício, e, este teria que ter um motivo para ser feito, qual? A queda! Como ele foi feito antes de tudo acontecer, só podemos entender que a queda era parte incondicional da vontade de Deus. Deus não se agrada do erro, mas foi preciso que ele o permitisse para se revelar na plenitude do deu ser.

Os opostos se revelam simultaneamente, pois não se pode conhecer a luz se não souber o que são trevas. Da mesma forma, como conhecer a Graça de Deus sem antes conhecer a queda que nos tornou miseráveis? A Revelação completa da soberania e dos atributos de Deus só poderia ser entendida por um ser dotado de conhecimento do bem e do mal, coisa que o homem não era.

Deus arbitrou a queda, mas quem agiu nela foi o homem, desobedecendo assim a uma ordem de Deus. Por que isso? Deus precisava que o homem caísse para que pudesse demonstrar também a sua justiça, revelando assim mais um de seus atributos. Como fazer justiça em um mundo que não se há injustiça?

Há dois lados em tudo, inclusive no caráter de Deus, pois ele é Amor, mas também é fogo consumidor, é misericórdia, mas também é justiça. Criou o bem, mas também criou o mal. Criou a luz e simultaneamente criou as trevas. “E disse Deus: haja luz. E houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.” Gn1:3-4.

Adão e Eva conheciam apenas uma faceta de Deus, mas mesmo assim não poderiam valorizá-la como deveriam. Sabiam que Ele era o criador e que tinha poder, mas ainda não sabiam que Ele era misericordioso e tinha amor.

Eu posso ter toda a saúde do mundo, mas eu vou valorizá-la quando eu souber o que é a doença. Assim eles só poderiam valorizar a Deus se pudessem ter a sensação de tê-lo perdido.

Santo Agostinho declara: “Bendita queda que nos trouxe tão grande salvação.”